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Redação do Site Inovação Tecnológica – 15/04/2025
Esquema do experimento, projetado para evitar qualquer tipo de contaminao.
[Imagem: Li Hsia Yeo et al. – 10.1029/2024JE008334]
Vento que produz gua
A hiptese antiga, datada dos anos 1960, mas at agora ningum conseguiu demonstrar experimentalmente que o vento solar pode criar molculas de gua na Lua.
A ideia que, quando um fluxo de partculas eletricamente carregadas, conhecido como vento solar, atinge a superfcie lunar, ele desencadeia uma reao qumica, chamada hidroxilao, que pode produzir molculas de gua – h propostas de que tambm a gua da Terra pode ter sido produzida pelo vento solar.
A hiptese se justifica. O vento solar rico em prtons, que so ncleos de hidrognio. Modelos computacionais e experimentos de laboratrio j demonstraram que, quando prtons colidem com a superfcie da Lua, que composta de um material rochoso e empoeirado chamado regolito, eles colidem com eltrons e se recombinam para formar tomos de hidrognio. E o regolito lunar tem vrios minerais, como a slica, que tm oxignio em sua composio.
Agora, na simulao de laboratrio mais realista desse processo feita at hoje, a pesquisadora Li Yeo e colegas do Centro de Voos Espaciais Goddard afirmam ter confirmado essa previso – embora nem todos concordem.
“O mais interessante aqui que, com apenas solo lunar e um ingrediente bsico do Sol, que est sempre expelindo hidrognio, existe a possibilidade de criar gua,” disse Yeo.

Ilustrao da reao de hidroxilao.
[Imagem: Li Hsia Yeo et al. – 10.1029/2024JE008334]
Hidroxila no gua
J foram identificados vrios indcios de molculas de hidroxila (OH) e gua (H2O) na superfcie superior da Lua, a apenas alguns milmetros de profundidade. Essas molculas deixam para trs uma espcie de impresso digital qumica, uma curva perceptvel em uma linha ondulada em um grfico que mostra como a luz interage com o regolito.
Mas ainda no dispomos de instrumentos capazes de diferenciar hidroxila de gua, ento os cientistas usam o termo “gua” para se referir a uma ou a uma mistura de ambas as molculas. Essa interpretao das molculas hidroxila na Lua como gua tem gerado controvrsia h anos, com alguns cientistas protestando veementemente, afirmando que a Lua no tem gua.
Para tentar tirar a questo a limpo, a equipe construiu um aparelho para examinar amostras lunares trazidas pela Apolo. Pela primeira vez, o aparelho contm todos os componentes exigidos para o experimento: Um dispositivo de feixe de partculas solares, uma cmara sem ar, que simula o ambiente lunar, e um detector de molculas. Isso evitou que a amostra de solo lunar tivesse que ser retirada da cmara, como outros experimentos fizeram, j que isso a expe contaminao da gua presente no ar.
Usando poeira de duas amostras diferentes coletadas na Lua pelos astronautas da Apolo 17, em 1972, Yeo primeiro assou as amostras, para remover qualquer possvel gua que pudessem ter coletado entre o armazenamento hermtico na unidade de curadoria de amostras espaciais da NASA, em Houston, e o laboratrio, no Centro Goddard. Em seguida, ela usou um pequeno acelerador de partculas para bombardear a poeira com vento solar simulado por vrios dias – o equivalente a 80.000 anos na Lua, com base na alta dose de partculas utilizada.

Grfico produzido durante o experimento, mostrando indcios de molculas hidroxila ou gua.
[Imagem: Li Hsia Yeo et al. – 10.1029/2024JE008334]
Nada conclusivo
Um detector, conhecido como espectrmetro, foi usado para medir a quantidade de luz refletida pelas molculas de poeira, mostrando como a composio qumica das amostras mudava durante o experimento.
No final, a equipe observou uma queda no sinal de luz em seu detector precisamente no ponto da regio infravermelha do espectro eletromagntico – prximo a 3 micrmetros – onde molculas hidroxila ou molculs de gua normalmente absorve energia, deixando uma assinatura “reveladora”.
Embora no possam afirmar conclusivamente que seu experimento produziu molculas de gua, os pesquisadores concluram em seu estudo que o formato e a largura da queda na linha ondulada em seu grfico sugerem que tanto hidroxila quanto gua foram produzidas nas amostras lunares.
Infelizmente, ainda que a concluso esteja correta, o horizonte temporal (80.000 anos) necessrio para gerar algumas molculas de gua no traz muita esperana de uso prtico dos ventos solares como fonte de gua para astronautas e futuros exploradores da Lua.
Artigo: Hydroxylation and Hydrogen Diffusion in Lunar Samples: Spectral Measurements During Proton Irradiation
Autores: Li Hsia Yeo, Anastasis Georgiou, Liam Morrissey, William Farrell, Jason McLain
Revista: Journal of Geophysical Research: Planets
DOI: 10.1029/2024JE008334
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