Na busca por vida aliengena, no encontrar nada tambm ajuda muito

Espao

Redação do Site Inovação Tecnológica – 10/04/2025

Ilustrao de um planeta hipottico coberto de gua.
[Imagem: NASA/JPL-Caltech]

Quando o nada nos diz muito

E se passarmos dcadas construindo telescpios avanados para procurar vida aliengena em outros planetas e no encontrarmos nada? E quantos exoplanetas os astrnomos precisaro observar e compreender para chegar a essa concluso? Ou, de modo mais geral, quantos exoplanetas precisaremos estudar para declarar que a vida fora da Terra inexistente, ou rara ou ento comum?

Este foi o desafio que se propuseram a responder Daniel Angerhausen e colegas do Instituto Federal de Tecnologia (ETH) de Zurique, na Sua, e do Instituto SETI, nos EUA.

E a concluso geral do estudo parece promissora: Mesmo enquanto no encontrarmos nada, a informao importante, e ajudar a guiar as pesquisas futuras.

Acontece que, na cincia, mesmo no encontrar algo pode gerar insights importantes. Quando os cientistas procuram sinais de vida em exoplanetas, eles tipicamente se concentram em caractersticas especficas, as chamadas bioassinaturas, como sinais de gua ou gases como oxignio e metano, que podem indicar atividade biolgica.

Mas o que acontece se no encontrarmos nenhuma dessas caractersticas? A resposta da equipe que podemos usar isso para aprender algo significativo sobre o quo comum a vida pode ser no Universo.

O raciocnio simples: Depois de examinar detalhadamente alguns exoplanetas (digamos entre 40 e 80) e no encontrarmos sinais de vida, poderemos calcular com segurana que (considerando a amostra entre 40 e 80) menos de 10 a 20% dos planetas semelhantes a esses analisados tm chances de abrigar vida – a porcentagem ir variar dependendo diretamente do nvel de certeza obtido em cada observao.

Esse resultado permitiria ento estabelecer um limite superior significativo para a prevalncia de vida no Universo, o que no foi possvel at o momento. Alm disso, mesmo que apenas 10% dos planetas da Via Lctea possuam alguma forma de vida, ainda assim poderiam ser 10 bilhes de planetas ou mais.

“Esse tipo de resultado seria um ponto de virada,” disse Angerhausen. “Mesmo que no encontremos vida, finalmente seremos capazes de quantificar o quo raros – ou comuns – os planetas com bioassinaturas detectveis realmente podem ser.”

Na busca por vida alien

Comparao da frao derivada de planetas semelhantes Terra com bioassinaturas detectveis em funo do nmero de planetas observados pelas misses HWO e LIFE. A curva preta slida indica a frao observada de melhor ajuste, assumindo que todas as deteces sejam negativas, enquanto as setas pretas representam o limite superior de confiana/crena de 99,9% que seramos capazes de derivar. Linhas verticais e regies sombreadas destacam as previses feitas por estudos recentes.
[Imagem: Daniel Angerhausen et al. – 10.3847/1538-3881/adb96d]

Implicaes para misses futuras

Essa compreenso da importncia das no deteces tem implicaes diretas para misses futuras, como o Observatrio de Mundos Habitveis (HWO: Habitable Worlds Observatory), da NASA, e o Grande Interfermetro para Exoplanetas (LIFE: Large Interferometer for Exoplanets), liderado pela Europa.

Ambas as misses estudaro dezenas de planetas semelhantes Terra, analisando suas atmosferas em busca de sinais de gua, oxignio e bioassinaturas ainda mais complexas. De acordo com o estudo, o nmero de planetas observados ser grande o suficiente para tirar concluses significativas sobre a prevalncia de habitabilidade e vida em nossa vizinhana galctica.

No entanto, o estudo tambm aponta que, mesmo com instrumentos avanados, essas pesquisas precisaro levar em conta cuidadosamente incertezas e vieses e derivar estruturas para quantific-los, a fim de garantir que seus resultados sejam estatisticamente significativos.

Um alerta fundamental que incertezas em observaes individuais – como falsos negativos, quando deixamos passar uma bioassinatura e a rotulamos erroneamente como um planeta morto – podem afetar significativamente as concluses. Por exemplo, se houver a possibilidade de um instrumento de deteco deixar passar uma bioassinatura, essa incerteza limita o quanto podemos confiar em qualquer concluso baseada em resultados nulos. Da mesma forma, se muitos planetas em uma pesquisa se revelarem inadequados para a vida, mas forem includos erroneamente, isso distorce os resultados.

“No se trata apenas de quantos planetas observamos – trata-se de quo confiantes podemos estar em ver ou no o que estamos procurando,” disse Angerhausen. “Se no formos cuidadosos e confiarmos demais em nossa capacidade de identificar vida, mesmo uma grande pesquisa pode levar a resultados enganosos.”

Na busca por vida alien

Ilustrao do primeiro planeta do tamanho da Terra orbitando uma estrela na zona habitvel, a faixa de distncia de uma estrela onde a gua lquida pode se acumular na superfcie de um planeta em rbita.
[Imagem: NASA Ames/SETI Institute/JPL-Caltech]

Fazer perguntas melhores

A equipe enfatiza que formular as perguntas certas crucial para obter resultados significativos. Assim, em vez de perguntar de forma genrica “Quantos planetas tm vida?”, uma pergunta repleta de ambiguidade, talvez seja melhor fazer perguntas mais especficas e mensurveis, como “Qual frao de planetas rochosos na zona habitvel conservadora apresenta sinais claros de vapor d’gua, metano e oxignio?”.

Essa abordagem ajudaria a elaborar pesquisas que detectem ou descartem caractersticas especficas com segurana, sem marcar o exoplaneta com um “X” significando algo como “Esse no vale a pena mais ser estudado”.

Mas, claro, estudando cada vez mais exoplanetas, h sempre a possibilidade de se encontrar algo.

“Mesmo uma nica deteco positiva mudaria tudo, mas at l, precisamos ter certeza de que estamos aprendendo o mximo possvel com o que no encontramos,” concluiu Angerhausen.

Bibliografia:

Artigo: What if we Find Nothing? Bayesian Analysis of the Statistical Information of Null Results in Future Exoplanet Habitability and Biosignature Surveys
Autores: Daniel Angerhausen, Amedeo Balbi, Andjelka B. Kovacevic, Emily O. Garvin, Sascha P. Quanz
Revista: The Astronomical Journal
Vol.: 169, Number 5
DOI: 10.3847/1538-3881/adb96d

Seguir Site Inovação Tecnológica no Google Notícias

Outras notcias sobre:

Mais tópicos

Rolar para cima