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Redação do Site Inovação Tecnológica – 02/04/2025
Lquen Cetraria aculeata superposto a uma imagem de Marte.
[Imagem: Kaja Skubala et al. – 10.3897/imafungus.16.145477]
Lquens sobreviveriam em Marte
Um experimento indito, realizado aqui mesmo na Terra, demonstrou que algumas espcies de lquens podem conseguir sobreviver em Marte, mantendo um estado metabolicamente ativo.
O teste foi feito em um ambiente que simula as condies da atmosfera marciana, incluindo a radiao ionizante, que penetra profundamente na atmosfera rarefeita do planeta vermelho.
Isso contesta frontalmente as suposies anteriores de que Marte teria uma natureza inabitvel, oferecendo informaes importantes no apenas para futuros exploradores, mas tambm para os estudos de astrobiologia, visando outros planetas e luas.
Lquens no so um organismo nico, mas uma associao simbitica entre um fungo e algas e/ou cianobactrias, conhecidas por sua extrema tolerncia a ambientes hostis, como desertos e regies polares da Terra.
Neste experimento, o parceiro fngico na simbiose do lquen permaneceu metabolicamente ativo quando exposto a condies atmosfricas semelhantes s de Marte, incluindo os nveis de luz e de radiao de raios X esperados em Marte ao longo de um ano de forte atividade solar.
“Nosso estudo o primeiro a demonstrar que o metabolismo do parceiro fngico na simbiose do lquen permaneceu ativo enquanto estava em um ambiente que lembrava a superfcie de Marte. Descobrimos que o Diploschistes muscorum foi capaz de realizar processos metablicos e ativar mecanismos de defesa de forma eficaz,” disse Kaja Skubala, da Universidade Jaguelnica, na Polnia.

Arranjo experimental da cmara de simulao da atmosfera marciana, incluindo grade de metal com os lquens, mesa de resfriamento, sensores de temperatura, presso e umidade, lmpada de raios X com controlador, vlvula de CO2 com cilindro, controladores de vcuo e presso, mesa de resfriamento e computador de controle.
[Imagem: Kaja Skubala et al. – 10.3897/imafungus.16.145477]
Lquens espaciais
Os experimentos usaram duas espcies de lquen, Diploschistes muscorum e Cetraria aculeata, selecionadas por suas caractersticas diferentes.
Ambas foram expostas a condies semelhantes s de Marte, em uma simulao da composio atmosfrica do planeta, incluindo presso, flutuaes de temperatura e radiao de raios X.
O experimento mostrou que os lquens podem sobreviver em Marte, apesar das altas doses de radiao de raios X associadas a erupes solares e partculas energticas que atingem a superfcie do planeta – o D. muscorum saiu-se particularmente bem.

Cetraria aculeata e Diploschistes muscorum. As setas pretas indicam pigmentos de melanina, as setas vermelhas indicam cristais de oxalato de clcio e os asteriscos amarelos indicam gros de areia de quartzo presos dentro do talo dos lquens.
[Imagem: Kaja Skubala et al. – 10.3897/imafungus.16.145477]
Vida em Marte
Estes resultados contestam a suposio de que a radiao ionizante uma barreira intransponvel vida em Marte, abrindo caminho para pesquisas sobre o potencial de sobrevivncia microbiana e simbitica extraterrestre.
“Estas descobertas ampliam nossa compreenso dos processos biolgicos sob condies marcianas simuladas e revelam como organismos hidratados respondem radiao ionizante – um dos desafios mais crticos para a sobrevivncia e habitabilidade em Marte. Por fim, esta pesquisa aprofunda nosso conhecimento sobre a adaptao dos lquens e seu potencial para colonizar ambientes extraterrestres,” disse Skubala.
A equipe recomenda que sejam feitas novas observaes em perodos maiores e que comecem os preparativos para experimentos reais em Marte.
Artigo: Ionizing radiation resilience: how metabolically active lichens endure exposure to the simulated Mars atmosphere.
Autores: Kaja Skubala, Karolina Chowaniec, Miroslaw Kowalinski, Tomasz Mrozek, Jaroslaw Bakala, Ewa Latkowska, Beata Mysliwa-Kurdziel
Revista: IMA Fungus
Vol.: 16: e145477
DOI: 10.3897/imafungus.16.145477
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