James Webb flagra primeiro caso de um “planeta suicida” – Meio Bit

Em seus quase três anos de missão, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) já trouxe diversas e incríveis imagens do Universo, e confirmou que não só ele continua expandido, mas está acelerando, ao mesmo tempo em que livrou a barra do Hubble.

Uma de suas observações recentes é mais um lembrete de que o Cosmos é um lugar mais esquisito do que conseguimos imaginar: ele flagrou pela primeira vez um “planeta suicida”, que mergulhou dentro da estrela que orbitava sem intervenção desta.

Representação artística de um planeta morto orbitando uma estrela (Crédito: Getty Images)

Representação artística de um planeta morto orbitando uma estrela (Crédito: Getty Images)

Em 2020, o telescópio Gemini Sul, localizado na montanha Cerro Pachón, nos Andes chilenos (um dos poucos projetos do qual o Brasil não foi chutado), fez uma observação até então inédita, de uma estrela devorando um planeta que a orbitava. O evento, divulgado oficialmente em maio de 2023 (cuidado, PDF), foi verificado por outros observatórios e pelo Telescópio NEOWISE, uma de suas últimas tarefas antes do fim de sua missão, e queimar na atmosfera da Terra em 2024.

A ocorrência recebeu a denominação ZTF SLRN-2020, por similaridades com uma Nova, quando uma anã branca explode após absorver material de acreção de uma estrela próxima. No caso em questão, a estrela distante 12 mil anos-luz da Terra emitiu um brilho maior detectável, quando “engoliu” um planeta de massa similar à de Júpiter.

O estudo original trabalhou com a hipótese de que a estrela observada estava saindo do estado de sequência principal, após ter fundido todo o hidrogênio de seu núcleo em hélio, e por não ter massa suficiente, começou a se expandir para se converter em uma gigante vermelha. Este é o mesmo destino que aguarda o Sol daqui a 5 bilhões de anos, quando ele engolirá Mercúrio e Vênus, e cientistas especulam que a Terra, Marte, e uma parte ou mesmo todo o cinturão de asteroides, também serão pulverizados no processo.

Porém, novas observações do JWST revelaram (cuidado, PDF) que ZTF SLRN-2020 continua no estágio de sequência principal. Os novos dados, de até 820 dias após o pico no aumento de luminosidade detectado, confirmam que o planeta devorado tinha uma massa similar à de Júpiter, e uma órbita parecida com a de Mercúrio. Assim, os cientistas estão vendo o caso como o de um “planeta suicida”, onde sua órbita divergiu em algum momento, levando-o a mergulhar na estrela.

Telescópio Espacial James Webb ainda tem muito o que observar (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)Telescópio Espacial James Webb ainda tem muito o que observar (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Telescópio Espacial James Webb ainda tem muito o que observar (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Um planeta que apresente uma órbita autodestrutiva não é uma ocorrência comum, mas já foi teorizado como uma possibilidade, embora pendendo mais para a Ficção Científica. A especulação é que ele tenha sido vítima das forças gravitacionais entre ele, a estrela e um terceiro corpo celeste, similar à interação entre o Sol, a Terra e a Lua, que criam as marés.

Devido à órbita mais próxima, os efeitos seriam bem mais pronunciados, criando variações milimétricas na órbita ao longo de milhões de anos, até o momento em que o planeta chegou perto demais da estrela, ao ponto de que a gravidade faria o resto, acabando por despedaça-lo.

Há também outros astrônomos que não concordam com essa hipótese, e alegam que ZTF SLRN-2020 só parece jovem nas observações, sugerindo que sua luminosidade estaria parcialmente oculta por uma nuvem estelar, dessa forma, ela ainda se enquadraria como uma gigante vermelha.

Claro, cientistas ao redor do globo continuarão analisando os dados em busca de respostas, enquanto o James Webb segue em sua missão de observar novas, e bizarras, ocorrências no Cosmos.

Referências bibliográficas

LAU, R. M., JENCSON, J. E., SALYK, C. et al. Revealing a Main-sequence Star that Consumed a Planet with JWST. The Astrophysical Journal, Volume 983, Número 2, 17 páginas, 10 de abril de 2025.

DOI: 10.3847/1538-4357/adb429

Fonte: WIRED

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