Ex-cobrador de ônibus, Leanderson encontrou nos aplicativos de transporte uma virada de chave para sua vida financeira. Atuando desde 2018, ele revela que já chegou a faturar até R$ 12 mil por mês, trabalhando com inteligência, horários estratégicos e foco nas corridas com tarifa dinâmica.
Crítico das condições oferecidas fora do dinâmico, ele afirma que a Uber “passa a perna” em quem não sabe jogar o jogo. Com quase 25 mil corridas pela plataforma, Leanderson garante: a chave do lucro não está nas horas rodadas, mas na forma de trabalhar — e mostra que, mesmo sem usar apps auxiliares, é possível lucrar alto e viver melhor do que com um emprego tradicional.
Então, a minha primeira pergunta é saber: desde quando você é motorista de app e o que te levou a começar a realizar esse tipo de atividade?
Leanderson: Eu era cobrador de ônibus. Comecei como motorista de aplicativo em 2018, né, Tatiana? Foi nesse ano mesmo que iniciei. Como eu ainda trabalhava como cobrador, não dava pra conciliar as duas funções, então parei. Mas, logo na pandemia, voltei a rodar e, desde então, segui firme. Cheguei até a aderir ao plano de demissão voluntária do meu antigo trabalho. Pedi pra sair e decidi focar de vez nisso, porque percebi que ser motorista de aplicativo era uma forma de sobrevivência melhor do que continuar como cobrador de ônibus.
E minha próxima pergunta: como é a sua rotina atual de trabalho? De que horas a que horas você trabalha? Você descansa algum dia na semana? Só volta pra casa depois de bater alguma meta? Como funciona pra você?
Leanderson: Eu costumo trabalhar em horários específicos. Por exemplo, começo por volta das 10h30, 11h, e vou até mais ou menos 12h40. Esse é o horário que, em alguns dias, eu aproveito pra sair. Depois disso, preciso voltar pra pegar minhas filhas e levá-las à escola. Aí, retorno novamente e trabalho até por volta das 14h30. Tento sempre focar nos horários de maior movimento, com dinâmica. Se não tiver dinâmica, eu nem saio pra trabalhar, porque não vale a pena. Às vezes, é como se a gente estivesse trabalhando de graça.
E quando costuma ter mais dinâmica? Final de semana, né? Ou não?
Leanderson: Isso mesmo, sábado, domingo e feriado são os dias com mais dinâmica.
Leanderson, minha próxima pergunta é: mais ou menos, quanto você fatura trabalhando nessas dinâmicas? E qual é a taxa que a Uber costuma descontar de você?
Leanderson: Normalmente a taxa chega até 25%. Mas, pra quem sabe trabalhar, tem vezes que ela nem tira nada. Às vezes, a Uber até paga mais pra gente do que o passageiro pagou. Por exemplo, o passageiro paga R$ 10 e a gente recebe R$ 17. Ou o passageiro paga R$ 12 e a gente ganha R$ 17,20. Isso é porque o motorista sabe trabalhar. Já meu irmão, por exemplo, trabalha de um jeito totalmente errado. Ele rodou 48 horas e fez R$ 1.279 no aplicativo. Eu rodei só 40 horas e fiz mais de R$ 2.150 — cerca de R$ 900 a mais do que ele. E ainda gastei só uns R$ 400 de gasolina. Ou seja, só na sexta, sábado e domingo, eu faturei entre R$ 1.700 e R$ 1.800.
Então você diria que o faturamento não depende das horas trabalhadas, mas da forma como se trabalha?
Exatamente. O jeito como a gente trabalha faz toda a diferença. Tem gente que sai cedo de casa, mas trabalha sem pegar dinâmica. E isso é ruim, porque sem dinâmica, a Uber fica com uma fatia muito maior da corrida. Uma corrida de R$ 10, por exemplo, pode render só R$ 4 ou R$ 5 pro motorista — e a Uber fica com o restante. Já se você trabalha com dinâmica, acontece o contrário: é você que tira mais da Uber, e não o contrário.
Eu acredito que a Uber “passa a perna” em quem trabalha fora do dinâmico. Assim o faturamento cai. Meu irmão, por exemplo, pega muita corrida longe. Já eu, não. Eu prefiro rodar em um raio de até 6 km, sempre ao meu redor, aqui onde estou. E é justamente essa área que tem mais dinâmica. Eu não vou pra Serra, por exemplo. Você é de onde?
Sou de São Paulo.
Leanderson: Ah, então… aqui, a Serra é um município longe de Cariacica, onde eu fico. E por ser distante, uma viagem daqui até lá pode render R$ 70, mas você gasta mais de 40 minutos só nessa corrida. Enquanto isso, se eu fico rodando aqui mesmo, num ponto estratégico e em horário certo, consigo fazer os mesmos R$ 70 — ou mais — em menos de uma hora. E ainda gasto bem menos. Meu irmão roda muito mais e, mesmo assim, acaba ganhando menos que eu.
E voltando lá pra 2018, quando você começou… você acha que naquela época era melhor ser motorista de aplicativo? Muitos dizem que as taxas não mudaram, mas os custos aumentaram por causa da inflação, entre outras coisas. Qual sua visão sobre isso?
Leanderson: Olha, em 2018 era melhor sim, mas o problema é que a gente não sabia trabalhar direito. Naquela época, o aplicativo não mostrava o destino das corridas. Já aconteceu de eu rodar 80 km pra levar uma mulher, numa corrida que pagou uns R$ 80 ou R$ 90. Só que eu tive que pagar pedágio na ida e na volta. Resumindo: não ganhei nada.
Além disso, a Uber não deixava a gente trabalhar em outros municípios sem autorização. Então, depois de fazer a corrida e ir até outro município, tive que voltar pra Grande Vitória por conta própria. E o que eu tinha ganhado foi praticamente todo embora. Tive que recomeçar o dia.
Hoje, com mais experiência, acho que a forma de trabalhar está melhor. Agora o aplicativo mostra pra onde você vai, quantos minutos vai gastar e quanto vai ganhar. Antes não era assim. A gente aceitava sem saber e, se recusasse demais, era bloqueado.
E você se considera um motorista seletivo nas corridas? Mesmo com dinâmica, costuma filtrar bastante?
Leanderson: Com certeza. Eu seleciono. Se vejo que a corrida vai dar lucro, eu aceito. Se não vai, deixo passar.
E você usa algum aplicativo como StopClub ou DSW pra calcular se vale a pena aceitar a corrida?
Leanderson: Não. Eu faço tudo de cabeça mesmo. Por exemplo, se aparece uma corrida daqui pra Campo Grande, que é a uns 5 km, e somando o trajeto até o passageiro dá uns 6,7 km no total, eu já calculo mentalmente. Pra mim, tem que ser acima de R$ 2 por km.
Se a corrida dá R$ 17, eu tô ganhando quase R$ 3 por km. Uns R$ 2,70 mais ou menos. Eu olho e já calculo rapidinho na cabeça.
E você é fã de viagens mais longas ou curtas? Qual você acha melhor?
Leanderson: As viagens curtas são melhores. Elas são mais atrativas, porque você consegue fazer em menos tempo e, muitas vezes, ganhar mais. Já as viagens longas, às vezes, levam quase uma hora e pagam uns 70 reais. Enquanto isso, em uma hora aqui na região, eu consigo fazer três ou quatro corridas e passar de 70 reais fácil. Por exemplo: agora há pouco, fui até Campo Grande e voltei. Fiz 80 reais em 7 corridas e rodei só uns 20 quilômetros.
E, Leanderson, na sua opinião, qual é a maior dificuldade do motorista de aplicativo hoje?
Leanderson: É a segurança. A gente nunca sabe quem está entrando no carro. Por isso, eu sempre tomo cuidado quando chego para buscar alguém. Por exemplo, se o número da casa é 49, eu paro um pouco antes ou um pouco depois, nunca exatamente na frente. Assim eu consigo ter uma visão melhor do local. Se eu parar antes, consigo ver quem está vindo. Se eu parar depois, dá pra olhar pelo retrovisor. Isso me dá tempo de avaliar se tem algo estranho e até recusar a viagem e ir embora, se for o caso. Graças a Deus, nunca passei por nenhuma situação ruim, mas a insegurança é constante.
E quais dicas você daria pra quem está começando? E você acha que ainda vale a pena ser motorista de app em 2025?
Leanderson: A principal dica que eu dou é: selecione as viagens. Escolha as que são mais vantajosas, que dão lucro de verdade.
Sobre se ainda vale a pena… olha, eu tiro meu sustento disso. Antes eu era cobrador de ônibus e pagava aluguel. Hoje, como motorista de aplicativo, terminei de pagar meu carro, não pago mais aluguel, tenho duas casas e pretendo comprar mais. Mesmo com as dificuldades que a Uber impõe, a gente sempre encontra um jeito de continuar ganhando.
Hoje, eu prefiro mil vezes ser motorista de aplicativo. Não me vejo mais trabalhando com carteira assinada, com emprego fixo, essas coisas.
Você ganha muito mais como motorista de aplicativo do que ganhava como cobrador?
Leanderson: Com certeza. O salário de cobrador era mil reais. Lembro direitinho. Quando eu era cobrador, ganhava isso e ainda tinha que pagar aluguel. Comecei na Uber oferecendo mil reais pro dono do carro — que era o que eu ganhava como cobrador — só pra poder sair do aluguel. Na prática, meu sustento vinha só do ticket alimentação, porque o salário mesmo ia todo pra prestação.
Aí veio a pandemia, e foi nesse momento que minha vida mudou. Aproveitei a oportunidade e cresci muito como motorista. E, sinceramente, acho que compensa muito mais trabalhar como motorista de app do que com carteira assinada. Graças a Deus, não quero mais saber dessa área de cobrador.
Você comentou que na última semana tinha faturado mais de mil reais. Quanto exatamente?
Leanderson: Nessa semana agora, fiz R$ 2.150 só no aplicativo. Tenho corridas particulares também, mas nem contabilizo isso junto.
Fiz esse valor mesmo passando mal e tendo que levar minha esposa pra fazer uma cirurgia. Fiquei um tempo parado por conta disso, então poderia ter feito ainda mais. Se eu tivesse feito mais umas 10 corridas — que geralmente pagam em média R$ 12 cada — eu teria ganhado mais R$ 120, fora os R$ 45 de bônus que a Uber estava oferecendo.
Isso daria cerca de R$ 170 a mais. Se eu tivesse conseguido fazer isso, teria fechado a semana com quase R$ 1.300 em um dia. Como não deu, vim descansar. Mesmo assim, no total da semana, fiz R$ 2.300. Gastei R$ 400 de gasolina. Ou seja, teria tido R$ 1.900 de lucro fácil.
Isso em uma semana só de trabalho?
Leanderson: Uma semana. Fora os particulares.
E no fim do mês, você costuma fazer quanto mais ou menos? Trabalha todas as semanas nesse ritmo?
Leanderson: Eu procuro trabalhar toda semana sim. Mas tem dias, tipo terça, quarta e quinta, que às vezes eu não saio. Igual te falei: eu olho os horários em que está pagando dinâmico. Se não tiver, eu não saio pra trabalhar.
Agora mesmo, a Uber mandou uma meta de 70 corridas e vai pagar R$ 170 de bônus. Já fiz 7. Hoje, vou fazer mais umas 5 ou 6 e vou completando até quinta-feira.
Nessas horas, se aparece corrida curta, tipo de R$ 5,85 e com só 1 km de distância, eu pego só pra bater meta. Se eu já tiver batido a meta, aí eu não pego esse tipo de corrida não.
Por exemplo, se você teve R$ 1.900 de lucro na semana, quanto isso daria mais ou menos no fim do mês? Umas oito mil reais? Sete mil e seiscentos?
Leanderson: No mês de dezembro, por exemplo, eu cheguei a fazer quase R$ 12 mil de lucro. Na virada do ano novo, eu trabalhei — lembro até hoje, porque foi até minha esposa que comentou — e só com o aplicativo, sem contar os particulares, fiz R$ 1.430. Isso foi das 8h da noite até as 4h da manhã. Em oito horas, fiz R$ 1.400 e uns quebrados, tudo sem contar os clientes por fora.
O dinâmico fica bem alto nesse período, né?
Leanderson: Fica sim, o dinâmico sobe bastante no final do ano.
Então é isso mesmo, em média uns oito mil por mês?
Leanderson: Isso. Só que, quando o carro quebra, também tem prejuízo…
Leanderson, acho que a gente falou de quase tudo. Só mais uma pergunta: nesse último mês agora, março — que a gente sabe que tem menos dinâmico comparado com dezembro — quanto você conseguiu faturar?
Leanderson: Deixa eu dar uma olhadinha aqui rapidinho… Vou olhar só na Uber, que é o aplicativo que eu mais gosto de trabalhar. Mas também rodo no 99, no InDrive e atendo particulares. Só na Uber, em março, eu fiz quase R$ 6 mil. Março é um mês que começa a melhorar, diferente de janeiro e fevereiro que são mais fracos. Mas esses quase R$ 6 mil são de faturamento bruto. De líquido, tirando cerca de R$ 400 por semana de combustível, deu em torno de R$ 4.500 ou R$ 4.600. E isso só na Uber, sem contar o que ganhei nos outros apps e nos particulares.
E o seu app favorito pra trabalhar é mesmo a Uber, né?
Leanderson: Sim, prefiro a Uber. Em março, ela voltou a oferecer promoções. Em fevereiro, a Uber tinha parado com tudo — não sei por quê, mas sempre fazem isso: tiram as promoções e depois colocam de novo. Em março, voltaram com as promoções, principalmente nos fins de semana, e aí eu passei a trabalhar mais nesses dias. Durante a semana, eu só rodava se tivesse algum particular agendado. No fim das contas, mesmo num mês ruim, tirei R$ 4.600 limpos. Se eu ainda fosse cobrador de ônibus, estaria recebendo R$ 1.700 de salário e uns R$ 800 de tíquete. Daria um pouco mais de R$ 2.000. Ou seja, hoje ganho o dobro mesmo em um mês fraco.
Você trabalha com todos os apps, então? Indrive, Uber, 99?
Leanderson: Sim, rodo com os três. Mas quando a Uber está pagando bem, nem abro o 99 e o InDrive. Fico só na Uber porque é onde tem mais corridas. É o principal app que os passageiros usam. Hoje eu tô com quase 25 mil corridas feitas só pela Uber. No 99, tenho entre 3 e 5 mil, e no InDrive, umas 3 mil. Dá pra encher uns três Maracanãs só com meus passageiros (risos).
Então é isso, Leanderson. Só pra encerrar: você acha que faltou falar alguma coisa? Tem mais alguma dica ou comentário que gostaria de deixar?
Leanderson: Só queria reforçar a dica que já dei antes. Pros motoristas que estão começando agora: comecem! A Uber gosta de motorista novo porque eles aceitam qualquer corrida. Já os mais experientes, como eu, só pegam o que vale a pena. O novato sai feito “cachorro doido”, aceitando tudo. Por exemplo, uma corrida daqui pra Vila Velha dá uns 12 km e paga R$ 21. O cara vai rodar esse tanto, gastar 35 a 40 minutos, e no fim quase não vai lucrar nada. Enquanto isso, quem roda num ponto estratégico, onde tem mais dinâmico, ganha muito mais rodando menos. Essa é minha dica pra quem tá começando: selecione as corridas, foque nos horários certos e em regiões com dinâmica.