Estudo promovido pela Anatel em parceria com a Colin Consultoria no âmbito do projeto-piloto para instituir um Selo Climático ESG no setor de telecom chamou atenção para a necessidade de incluir infraestrutura de menor impacto ao meio ambiente nos padrões de consumo das operadoras. Os apontamentos constam em benchmark apresentado em webinar transmitido pela agência nesta quarta-feira, 16.
O Selo ESG faz parte de colaboração entre a Anatel e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem como objetivo criar um índice que classifique e incentive boas práticas de sustentabilidade ambiental, social e de governança entre as prestadoras.
A Colin Consultoria participa dos levantamentos que fazem parte da etapa atual, de diagnóstico. O CEO, Marcio Lino, destacou os principais achados do levantamento, realizado a partir de dados públicos sobre as práticas em vigor em 68 organizações públicas e privadas, sendo 23 delas atuantes a nível global, 17 na Europa, 14 na Ásia e Pacífico, 12 nas Américas e duas na África.
No âmbito das emissões de gases, o setor de telecom está ligado ao consumo de energia. O acompanhamento do tema demanda maior transparência por parte das empresas sobre a fonte utilizada. A pesquisa identificou que o maior desafio nesse quesito é ir além do consumo próprio. “Temos algumas iniciativas que são de conseguir engajar tanto a cadeia de clientes ou cadeia de consumidores, quanto a cadeia de fornecedores”, afirmou Lino.
Neste sentido, o consultor destaca que as ações de P&D estabelecem uma ligação necessária com a cadeia produtiva.
“Alguém fornece algo que alguém consome. Então, essa relação sempre vai existir. […] Na hora que eu compro um equipamento de rede de telecomunicações, na hora que eu compro um novo aparelho celular, é essa cadeia que eu estou me referindo, a cadeia produtiva. Essa parte do P&D é para que você tenha, cada vez mais, o engajamento na sua cadeia de fornecimento para que te traga produtos mais eficientes”, exemplificou Lino.
A busca por produtos mais eficientes envolve a observação de eficiência energética e a possibilidade de atualização tecnológica dos equipamentos.”Ou seja, você reduz o consumo energético e a produção de resíduos trazendo a produção de alguns equipamentos”, acrescentou.
IA e data centers
O benchmark também constatou a preocupação com o uso de IA e a demanda por data centers. Enquanto há, cada vez mais, maior necessidade de grandes data centers, fala-se também na alternativa de descentralização. Trata-se de “estruturas menores que são eficientes, que consigam ser descentralizadas, porque isso fala também com a resiliência climática”, disse Lino.
Uma métrica utilizada para avaliar a eficiência energética é o PUE (Power Usage Effectiveness), que relaciona o que é consumido pelo data center e pelos equipamentos de TI, para então determinar se há desperdício de energia com infraestrutura de suporte. Lino comenta que a métrica é pouco falada, apesar de conhecida entre empresas de conectividade, e está no radar como evolução de transparência nas práticas sustentáveis.
Ciclo de vida dos produtos
Organizações internacionais analisadas estimulam as empresas a avaliarem o ciclo de vida dos produtos que utilizam. No entanto, o estudo constatou escassez de exemplos que se comprovem na prática.
Relacionado a esse tema, o levantamento também avaliou as recomendações para lixo eletrônico. A principal iniciativa identificada é o monitor da ONU (Global E-waste Monitor). A edição de 2024, que consolida dados referentes ao ano de 2022, mostrou um recorde de 62 milhões de toneladas (Mt) de lixo eletrônico produzido, representando uma alta de 82% em relação a 2010.
Ainda de acordo com o mais recente Global E-waste Monitor, apenas 22,3% do descarte foi documentado como coletado e reciclado adequadamente. Com base nos dados, a geração anual de lixo eletrônico está aumentando em 2,6 milhões de toneladas anualmente.
Diagnóstico brasileiro
O benchmark é apenas uma parte do diagnóstico que a Anatel prepara. A agência está em processo de coleta de informações junto às operadoras, no âmbito da “Consulta Colaborativa com o Setor de TIC”, que recebe contribuições até a próxima terça-feira, 22, por meio de um formulário de participação.
Imagem principal: ilustração gerada com IA pelo Mobile Time