Motorista de aplicativo desde 2016, Maicon Christian Flores da Silva atua principalmente no período noturno, com base em Mogi das Cruzes (SP) e foco nas corridas em São Paulo e Guarulhos. Além da atividade nas plataformas, ele participa da associação local de motoristas e produz conteúdos nas redes sociais sobre os desafios da profissão. Nesta entrevista, Maicon compartilha sua rotina, critérios para aceitar corridas, visão sobre o cenário atual dos apps de transporte e os cuidados necessários para quem deseja ingressar nesse mercado em 2025.
Há quanto tempo você é motorista de aplicativo e o que te levou a realizar essa atividade?
Maicon: Eu comecei em 2016. E no final de 2017, aqui em Mogi, nós vimos a associação, né? Tem uma associação de motoristas por aplicativo aqui do OTT. E aí nós começamos todo o processo em 2018. No final de 2018, ela ficou pronta. Então, eu tenho aí uma associação, né? Nós temos essa associação. Já faz seis anos, sete… seis anos, alguma coisa assim, que a gente está na luta aí pela categoria, para trazer benefícios, para melhorias, enfim.
E, Maicon, agora eu gostaria de saber um pouquinho sobre a sua rotina como motorista. Então, de qual horário a qual horário você trabalha, se você folga algum dia da semana, se você é guiado por alguma meta. Tipo, “ah, eu só volto para casa se eu faturar 400, 300”. Como é que é isso pra você?
Maicon: Eu trabalho à noite, né? Eu rodo mais à noite. Na verdade, assim… eu tenho algumas coisas que eu faço durante o dia, em relação à associação, e outros projetos que eu tenho voltado para a categoria aqui em Mogi. E aí eu saio à noite, entre sete, oito, oito e meia, às vezes nove horas — é o horário que eu estou saindo para rodar.
Eu saio entre sete e nove horas, é o horário que eu estou saindo. Aí eu fico… eu não tenho uma meta, sabe por quê? Porque eu tenho horário para voltar. Às seis horas eu tenho que estar aqui em Mogi das Cruzes. Então, eu saio daqui entre sete e nove horas. Aqui em Mogi tem muito pouca corrida. Eu rodo mais em São Paulo. Então, eu vou pegando corridas até São Paulo, mais ou menos entre onze horas, dez, onze horas, eu já estou em São Paulo, e fico lá até umas cinco horas, cinco e meia. E nesse horário eu retorno. Então, eu não tenho uma meta, porque a minha meta é horário. Eu cumpro o horário, na verdade. Então, tendo corrida ou não, eu vou ficar até às cinco horas da manhã rodando. Isso eu tenho que ficar. E aí, deu o horário, eu volto para Mogi. Às vezes eu volto batendo lata, às vezes eu volto com corrida. Geralmente eu volto batendo lata, porque não tem muita chamada. Muitas chamadas nem para a Zona Leste nesse horário. Geralmente eu pego muito aeroporto. Eu finalizo no aeroporto de Guarulhos.
Eu não sei se você conhece aqui, Mogi das Cruzes está a mais ou menos 60 km de São Paulo, e 40 km de Guarulhos. Então, geralmente eu finalizo com corridas em Guarulhos. Aí eu deixo o passageiro e de lá eu vou embora.
Entendi. E trabalhando aí essas horas, você trabalha em torno de 10 horas, 11 horas, é isso?
Maicon: Isso, mais ou menos.
Você consegue faturar quanto?
Maicon: Eu não gosto muito de divulgar os valores que eu ganho, mas eu vou divulgar. É muito relativo. Quer dizer, você pega no começo da semana, não tem muitas chamadas no começo da semana. Então, eu tiro ali a média de 250, 300 reais durante a semana. Final de semana, que já tem mais chamadas, eu tiro um pouco mais. Eu consigo fazer um pouco mais. Mas o meu custo é alto. Eu tenho um custo um pouco alto, porque à noite é diferente do dia. À noite a gente tem alguns problemas em relação à segurança. Então, mesmo tendo poucas corridas, dificilmente eu aceito todas as corridas para bater alguma meta. É por isso que eu não tenho meta, porque eu preciso escolher as corridas. Eu já fui assaltado uma vez, já levaram o meu carro, e eu já sofri duas tentativas de assalto. Inclusive está no meu Instagram. Eu já tive duas tentativas de assalto. Então, eu tenho que tomar muito cuidado com o lugar onde eu estou e para onde eu vou. Então, eu tenho que filtrar minhas corridas.
E muitas vezes eu tenho que bater muita lata também. Eu tenho que andar sem passageiro para poder às vezes me deslocar e, como eu falei, às vezes até para voltar para casa.
Você, então, se considera um motorista seletivo nas corridas que você escolhe?
Maicon: Sim, eu tenho que ser. Pelo horário que eu faço, eu tenho que ser.
Na sua opinião, motorista que roda de noite deveria receber alguma bonificação a mais das plataformas? Qual a sua visão sobre isso?
Maicon: Eu creio o seguinte. Eu creio que sim, por questão de segurança. Como a gente não pode aceitar qualquer corrida, então a gente tem esse déficit de corridas. Então não tem uma compensação pelo percurso que eu faço muitas vezes sem passageiro. Por questão de segurança, eu acho que deveria ter ali uma compensação. Porque no táxi tem, né? Depois das 10 horas, ele tem a bandeira 2, que é um valorzinho a mais. E a gente não tem, né? Então eu acredito sim que deveria ter uma compensação a mais por ser à noite. Até porque também o público da noite é diferente do público do dia. O passageiro da noite, ele quer chegar em casa. E ele não fica fazendo cotação no aplicativo. O passageiro da noite, ele chama e vai embora. Ele quer chegar em casa. É o pessoal saindo do trabalho, né? Tirando o final de semana de balada, mas dia de semana, o pessoal quer chegar em casa. O pessoal faz a chamada lá e paga o valor que vem. Então, se está dinâmico ou não, o passageiro vai pagar. Então se houvesse uma compensação como há com os TATs, eu acho que não ia fazer tanta diferença para o passageiro, mas ia fazer uma grande diferença para a gente. Com certeza.
E quando você fala que você… 250, né? Que você chegou. Isso é faturamento ou lucro mesmo?
Maicon: Não, isso é bruto. Isso é bruto.
E como foi a sua decisão de querer começar a gravar os vídeos na internet? Qual foi essa virada de chave de você falar que ia começar a gravar os vídeos? Como foi esse processo para você?
Maicon: Na verdade, é o seguinte. Como eu rodo bem à noite, a gente tem uma deficiência desse público que mostra como é a noite. Embora tenha — tem bastante youtubers aí, influenciadores que fazem vídeos à noite —, mas é muito pouco. E eu vejo que o pessoal dá uma intercalada entre a noite e o dia. Eu não consigo rodar de dia. Eu só rodo à noite. O meu público é só à noite. Então, eu senti essa falta de estar mostrando um pouco como é a noite, como é o público da noite, como é rodar somente à noite. É por isso que eu faço esses vídeos.
E você rodando à noite… para você, qual é a melhor corrida? Para você, qual é a pior corrida? Aquela corrida que você não aceita de jeito nenhum.
Maicon: Olha, à noite nós temos dois públicos. É o público, como eu falei, que quer ir para casa. Esse público… eu já fiz um teste, viu? Você pode chegar com o carro que for. Nem que o carro não seja o mesmo do aplicativo. Se você chegou e abriu a porta, o passageiro entra. Então, o passageiro… existe esse passageiro que quer chegar em casa e aqueles da balada.
As melhores chamadas que eu tenho à noite são do pessoal que está indo trabalhar — isso durante a semana —, pessoal que está indo para o aeroporto, pessoal que está saindo do aeroporto. Então, são essas chamadas. Isso independe da distância, independe do percurso. Agora, as piores… é balada. É final de balada. Essas aí são as piores, porque você pega um público que às vezes acaba sujando o seu carro, é muita zoeira. Essas aí são realmente as piores.
Eu não estou falando em relação ao ganho, porque à noite você… como eu falei, tem prós e contras. Um dos prós que eu acho muito importantes no meu ganho é que você não tem trânsito. Você não tem o anda e para do dia. Você tem o trânsito livre, todos os faróis estão abertos, todos os faróis estão fechados, você cruza com cuidado, você negocia o cruzamento. Então, assim, existem algumas características que fazem as corridas serem boas, tanto as curtas como as ruins. E o que difere para mim hoje é o passageiro.
E minha próxima pergunta é saber um pouco se você tem algum critério nas corridas que você aceita no sentido de valor pago por KM. Por que eu pergunto isso? Porque muitos motoristas falam que eles só aceitam corridas que pagam em R$ 1,70, R$ 2,00 por KM, às vezes até R$ 2,50. E eu queria saber como é essa relação para você.
Maicon: Embora à noite a gente tenha essa… essa questão de não ter trânsito, e às vezes uma corrida de R$ 1,20, R$ 1,30 compensar porque o custo é menor, você não anda e para… Eu escolho bem as corridas, viu? Eu sou muito seletivo mesmo. Como eu falei, como é à noite, eu tenho que escolher as corridas. Então, em relação ao ganho, eu também faço essa distinção. Eu escolho bem.
Se for corrida, por exemplo, a inDrive, ela vinha bem, ela vinha mandando corridas boas. E de um tempo para cá, ela começou a mandar corridas a R$ 1,10, R$ 1,20. Aí não tem jeito. Esse tipo de corrida eu não aceito. Não tem como. Eu prefiro passar para o colega aceitar. Mas eu não aceito essas corridas. De R$ 1,50 para baixo, eu avalio muito bem se a corrida está dentro do tempo, se é um tempo longo, se é um tempo curto. Acima de R$ 1,50 é mais fácil de aceitar. Mas eu sou muito criterioso. Eu preciso ser criterioso.
E minha próxima pergunta: você comentou que você é motorista de app desde 2016, né? Eu gostaria que você, se lembrar, fizesse um comparativo para mim de como era ser motorista naquela época e como é agora. Você acha que naquela época pagava melhor ou que não? Muitos motoristas falam o seguinte — que é o que eu escuto bastante —, que o app paga a mesma coisa praticamente, só que os custos aumentaram, o que resulta em um lucro menor. Eu gostaria de saber de você o que você acha, qual a sua opinião.
Maicon: Para você ter uma ideia, eu acho que de 2016 pra cá… 2016, 2017… pra mim fazer esse mesmo valor que hoje eu faço, eu rodava entre seis e oito horas para fazer o mesmo valor. Então, a Uber pagava na época um pouco mais. Com certeza, a Uber pagava um pouco mais. E com certeza os custos eram menores.
O etanol era bem mais barato, né? Então, a manutenção era barata — barata em relação a hoje, né? Enfim, você tinha o custo do pneu, troca de óleo… era bem mais em conta, era bem mais baixo do que é hoje. Então, faz sentido o que você falou: você tinha um custo menor com um ganho maior. Hoje você tem um ganho menor e um custo maior.
Então, em comparação, 2016, 17, 18… um pouco antes da pandemia ali… a gente ganhava mais e rodava menos. A gente até poderia dizer que nós éramos mais seletivos, bem mais seletivos do que… ou melhor, menos seletivos, né? Porque as corridas eram boas, a Uber pagava melhor. Ela tinha um… o repasse era maior.
Hoje, não. Hoje a gente está no limite, né? Os ganhos são muito baixos, os custos estão muito altos. E isso sem falar da segurança, da geradoria pública, que incide diretamente na manutenção do carro, que é muito precária, né? Então, a gente realmente está ganhando menos hoje com um custo maior. Hoje, o motorista de aplicativo… antigamente, o motorista de aplicativo baixava o aplicativo e ligava. E vamos que vamos. Ia pegando corridas, né?
Hoje, o motorista não consegue baixar o aplicativo e ligar. Ele não ganha dinheiro. Ele tem que saber o que ele vai fazer, como ele vai fazer. Ele tem que ter instrução. Senão ele não ganha dinheiro. Ou ele empata ou ele perde.
E minha próxima pergunta: gostaria de saber, para você, quantos quilômetros, mais ou menos, você chega a rodar, né? Porque imagino que seja bastante, já que você mora em Mogi das Cruzes, você vai até Guarulhos, que é 40 km, São Paulo é 60 km. Então, qual a sua média de quilometragem por dia?
Maicon: Olha, de Mogi para São Paulo, a média é de 60 km. Então, eu tenho aí um custo de 120 km por dia, só de ida e volta. Mas, sem contar o que eu rodo lá, minha média é 250 km dia de semana. Essa é a minha média. 250 km dia de semana. 250 a 300 km. Aí, de final de semana aumenta, né? Porque a gente roda mais e tal, né? Mas a média dia de semana é de 250 a 300 km por dia.
E minha próxima pergunta: queria saber em qual categoria você roda e se você tem algum app favorito.
Maicon: Olha, hoje eu só rodo no X, por conta do carro, né? E eu só uso Uber. Eu usava o inDrive. A 99 eu não gosto de usar, eu não uso ela. Já faz uns anos, já. Usava o InDrive muito no começo. Antes, na verdade, quando a inDrive começou a aparecer aqui em São Paulo, eu nem usava Uber. O meu primeiro aplicativo era o inDrive. Depois que teve as duas últimas atualizações, o InDrive ficou muito ruim. Hoje eu só utilizo a Uber. Nem o inDrive eu uso mais, porque ela está pagando muito baixo, né? Então o meu favorito hoje é a Uber. Eu só uso o Uber hoje e faço o X. Somente o X.
E minha próxima pergunta, Maicon, é saber… na sua opinião — claro, são várias, a gente sabe que são várias —, mas se pudesse falar uma, qual é a maior dificuldade do motorista de aplicativo em 2025?
Maicon: A maior dificuldade hoje é a gestão financeira, eu acho. O motorista tem que ter gestão financeira. Ele saber escolher a corrida. Embora a maioria não escolha corrida, né? Aperta lá qualquer e vai aceitando. Mas eu acho que a maior dificuldade hoje é a gestão financeira. Ele gerir o dinheiro que ele tem, o dinheiro que ele recebe. Poder saber quanto ele está gastando, qual é o custo. Eu acho que hoje a maioria dos motoristas não sabe ainda qual é o custo real de se fazer aplicativo, em relação à manutenção, depreciação do veículo, tempo — porque a pessoa, ali, está gastando o seu tempo, ela está dedicando o seu tempo. Então, ela não tem, muitas vezes, essa gestão financeira em relação ao custo do carro e até ao custo de vida, né? Quanto que vale para ele ficar 10 horas rodando, sentado ali, em relação à saúde. Mas eu acho que o principal é a gestão financeira. Hoje, eu acho que em 2025, um grande desafio para o motorista é gerir hoje o seu custo.
Porque a Uber abaixou tanto o valor que ela obriga muitos motoristas a aceitarem todas as corridas. Existe isso também. A Uber faz um… esqueci o nome, né? Quando ela manda a corrida para um motorista e não manda para outro, ela está criando um sistema de… esqueci o nome que falo. Então, muitos motoristas acabam aceitando todas as corridas porque ele precisa de dinheiro, precisa vir o dinheiro. Só que não consegue fazer essa gestão financeira. Então, ele aceita as corridas por desespero, muitas vezes. Precisa pagar a conta, precisa da manutenção do carro. Mas ele não consegue identificar ou fazer essa gestão para ele saber como é que ele vai ir. Quanto que ele está ganhando, quanto que ele vai direcionar o valor X para uma determinada área. Enfim, eu acho que o grande desafio em 2025 é a gestão financeira.
Estou finalizando. Tenho mais duas perguntas. Vou mandar uma ou outra. Para você, vale ainda a pena ser motorista de app em 2025? E quais dicas você daria para quem está começando ou quem está interessado a fazer esse serviço?
Maicon: Vale a pena. Eu acho que vale a pena. Só que o motorista hoje precisa ter instrução. Ele tem que saber trabalhar. Ele tem que buscar na internet. Essa é a dica que eu dou também. Vale a pena, mas ele precisa buscar na internet, com os influenciadores, a forma de trabalhar, o modo de operação. Porque hoje está muito difícil a gente ganhar dinheiro, devido ao alto custo e o baixo ganho que as plataformas disponibilizam.
Então, eu recomendo o motorista hoje ter no mínimo… um mínimo de gestão financeira para ele saber trabalhar, se a corrida vale a pena. E se mesmo que vale a pena, ele ter ali uma visão sobre ganho e sobre custo, que hoje o motorista não tem. Então, eu recomendaria o motorista buscar nas redes sociais os grandes influenciadores que estão aí para ajudar. Eles explicam direitinho sobre planilhas, sobre custo, sobre ganho, para ele poder saber se vale a pena ou não. Eu acho que vale a pena. Se ele tiver uma instrução afínco daquilo que é ganho e custo, ele consegue ganhar dinheiro. Se não, não vai conseguir.
Entendi. Maicon, eu acho que era isso da minha parte. Eu fiz todas as perguntas que eu gostaria de fazer. Não sei se você sentiu falta de falar sobre algo, acha que algo é importante de acrescentar à nossa conversa?
Maicon: A gente está com um problema hoje que está voltando: a PLP12. Não é o caso agora da pauta, mas pode continuar. Nós estamos enfrentando hoje… está voltando novamente, está sendo pautada novamente a PLP12 em Brasília. O que eu tenho para falar sobre isso é que os motoristas precisam se unir. Se os motoristas não se unirem, se a categoria não se unir, a gente vai perder para a PLP12. Porque a PLP12 não é boa para a categoria. Só que a gente precisa de união para combater esse mal. É isso que eu tenho para falar sobre a PLP12.