A transformação digital trouxe conveniência e eficiência, mas também expôs empresas e usuários a riscos cibernéticos sem precedentes. No universo mobile, onde dispositivos e aplicativos são utilizados para transações financeiras, comunicação e armazenamento de informações sensíveis, a ciberresiliência não é apenas uma vantagem competitiva—ela se tornou uma necessidade fundamental.
Ciberresiliência na prática
A ciberresiliência é essencial para prevenir, identificar e responder a ameaças, garantindo a continuidade dos serviços mesmo sob ataque. Casos recentes no Brasil demonstram a importância dessa abordagem.
Em abril de 2024, o Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI) do governo federal sofreu um ataque cibernético que resultou no roubo de aproximadamente R$ 15 milhões. Os criminosos utilizaram técnicas de phishing e certificados digitais falsos para autorizar transações fraudulentas. Como resposta, foram implementadas medidas como autenticação multifator e treinamentos para reforçar a segurança dos sistemas governamentais.
No mesmo ano, em julho, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) enfrentou um ataque cibernético que comprometeu seus sistemas, levando à suspensão temporária de serviços. Para proteger os dados, a equipe de TI desligou os servidores, o que impactou novos agendamentos e forçou o uso de registros manuais para consultas e tratamentos. Com o apoio de especialistas, os sistemas foram restaurados e o INCA reforçou seus protocolos de segurança para evitar novos incidentes e garantir a integridade das informações dos pacientes.
Além das estratégias voltadas para a proteção de sistemas corporativos, garantir a segurança de aplicativos móveis é igualmente crucial para proteger usuários e empresas contra ameaças digitais. Tecnologias avançadas já permitem que proteções de segurança sejam integradas automaticamente aos aplicativos durante o desenvolvimento, eliminando a necessidade de codificação manual. Essas soluções monitoram e respondem continuamente em ambientes de produção, ajudando setores como bancos, varejo e saúde a se defenderem contra malware, engenharia reversa e ataques exploratórios.
Esses casos ressaltam a importância de uma abordagem proativa para a ciberresiliência, abrangendo desde medidas preventivas até respostas eficazes a incidentes, assegurando a continuidade operacional e a proteção de dados sensíveis.
Ameaças crescentes no mundo mobile
Devido ao seu amplo uso e à grande quantidade de dados armazenados, dispositivos e aplicativos móveis tornaram-se alvos prioritários para criminosos cibernéticos. Ataques de phishing, golpes de roubo de conta, trojans/malware e vulnerabilidades em apps de e-commerce e bancos representam riscos constantes para consumidores e empresas.
Eventos de alta demanda, como a Black Friday, são momentos críticos, pois fraudadores intensificam os ataques para roubar credenciais e comprometer transações financeiras. Em 2024, o setor de e-commerce brasileiro registrou R$ 6,8 bilhões em transações durante a Black Friday, superando o desempenho de 2023. No entanto, também foram detectadas 17.800 tentativas de fraude, evitando perdas de R$ 27,6 milhões, segundo dados da plataforma Hora a Hora, da Neotrust Confi, em parceria com a ClearSale, empresa especializada em prevenção a fraudes.
A segurança precisa ser incorporada ao ciclo de desenvolvimento dos aplicativos, em vez de ser adicionada posteriormente como uma camada extra. O modelo DevSecOps tem se mostrado essencial para integrar a segurança desde a fase de desenvolvimento. Motores automatizados de codificação integrados ao processo garantem que as proteções contra fraudes e ameaças sejam aplicadas corretamente antes do app chegar ao usuário final.
Além disso, as empresas devem adotar medidas preventivas, como o monitoramento contínuo de ameaças e ataques em produção, com respostas rápidas para neutralizar novas fraudes e golpes. Isso protege os clientes e preserva a confiança no mercado.
O papel das tecnologias emergentes
A Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning (ML) estão transformando a segurança cibernética móvel. Hackers e criminosos vêm utilizando IA de novas formas para ampliar seus ataques. Em vez de reagirem manualmente, novas tecnologias de defesa baseadas em IA analisam ameaças e ataques em tempo real, permitindo que as equipes implementem defesas proativas mesmo diante de padrões de ataque em constante evolução. Esse avanço é essencial, já que os ataques cibernéticos continuam aumentando—apenas no Brasil, houve um crescimento de 94% em 2023, segundo a Fortinet.
Novas camadas de segurança também estão ganhando força. De acordo com a Juniper Research, 80% das instituições financeiras globais já utilizam autenticação biométrica, tornando as transações mais seguras e reduzindo fraudes. No entanto, criminosos passaram a usar IA e deepfakes para contornar ferramentas como FaceID e outros métodos biométricos. Isso exige que as equipes de segurança adotem defesas baseadas em IA para detectar e bloquear deepfakes de vídeo, voz e aplicativos móveis, garantindo a integridade da autenticação dos usuários.
No cenário atual, as empresas precisam migrar para um modelo de gestão contínua de ameaças, utilizando as mais recentes plataformas nativas de IA para monitorar ataques, identificar tendências emergentes e agir preventivamente para bloquear ameaças antes que se tornem um problema. Com benchmarking baseado em IA, é possível entender como o risco mobile está evoluindo em relação a bilhões de usuários e aplicativos no mundo todo.
A segurança cibernética não é um estado fixo, mas um processo contínuo. A verdadeira ciberresiliência vem de uma estratégia de defesa em múltiplas camadas, combinando detecção e resposta a ameaças baseadas em IA, monitoramento contínuo e codificação automatizada para garantir proteções adequadas, independentemente das mudanças no ecossistema mobile. A capacidade de adaptação e inovação é o que garante proteção real em um mundo digital em constante transformação. Mais do que um diferencial, a ciberresiliência se tornou uma necessidade.