Clair Obscur Expedition 33 em review: jogo é oásis em indústria saturada

RPG se destaca por combate inovador que mistura ação e estratégia, além de impressionar por direção de arte e roteiro; veja análise completa O jogo Clair Obscur: Expedition 33 é o título de estreia da desenvolvedora francesa Sandfall Interactive e foi lançado no final de abril deste ano para PlayStation 5 (PS5), Xbox Series X, Xbox Series S e PC. Embora tenha chegado ao mercado de forma discreta, o game logo se tornou viral, graças aos elogios dos jogadores, às notas altas em agregadores como o Metacritic — onde pontua 92 — e, principalmente, por não ser um título vindo das maiores empresas do setor. Ah, e o jogo também é consideravelmente mais barato do que os chamados AAAs: as versões custam a partir de R$ 184,95, pouco mais da metade do “preço-base” de um lançamento.
O game se destaca, sobretudo, por um sistema de combate inovador, que mistura a estratégia dos RPGs de turno com a ação frenética — ainda que isso, à primeira vista, possa parecer contraditório. Mas será que Expedition 33 faz jus ao hype? É o que o TechTudo vai te contar neste review. Veja, a seguir, detalhes de gameplay, história, desempenho e o que achamos do game.
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Gustav é o protagonista de Clair Obscur: Expedition 33
Reprodução/Steam
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Clair Obscur Expedition 33 em review: jogo é oásis em indústria saturada
Uma luta contra o desaparecimento
Uma experiência de arte em estado puro
Gameplay que agradada a gregos e troianos
Desempenho e aspectos técnicos
Clair Obscur: Expedition 33 vale a pena?
Trailer de Clair Obscur: Expedition 33
Uma luta contra o desaparecimento
O enredo de Expedition 33 começa de forma lenta e muito focado em plantar pulgas atrás das orelhas dos jogadores. Assumindo o papel de Gustave (que não é interpretado por Robert Pattinson, cabe deixar claro), conhecemos a cidade de Lumière, onde todos parecem se preparar para um evento do qual pouco se sabe: o gommage – termo que, vindo do francês, pode ser entendido como um “apagamento”. E logo descobrimos o motivo para isso. No universo do jogo, todos os anos, uma entidade conhecida como A Artífice pinta um número, que diminui a cada ano, em um monólito afastado da cidade. Logo depois que isso acontece, as pessoas com aquela idade simplesmente viram pó na frente de todos.
Esse evento acontece em Lumière há 100 anos, mas os habitantes também não entendem como e nem por ele ocorre. A única esperança que a cidade tem de mudar o panorama é enviar, todos os anos, uma expedição formada por pessoas fadadas ao desaparecimento no próximo ciclo para a ilha onde fica o monólito, tentando impedir um novo gommage. A questão é que ninguém nunca volta para contar o que há lá.
O gommage faz com que Sophie, ex de Gustave, desapareça
Reprodução/Luiza M. Martins
Dito isso, Gustave, que tem 32 anos, é um dos líderes da Expedição 33. Ele acabou de ver sua ex-namorada, Sophie, desaparecer. Ainda em luto, ele se junta a alguns amigos que, como ele, devem desaparecer no próximo gommage, e seguem para o monólito. Assim que chegam, são atacados e ele perde a unidade quase inteira. É nesse cenário que Gustave precisa encontrar os sobreviventes para dar continuidade à expedição e tentar impedir a Artífice de continuar pintando idades cada vez menores.
É bem verdade que Expedition 33 se tornou um viral entre a comunidade gamer por conta dos combates, do qual falarei com mais detalhes nos próximos tópicos dessa análise. No entanto, tão importante quanto ele é falar sobre a narrativa do título, que é simplesmente fantástica. Além de trazer uma trama ambientada em um universo bem específico – e pouco usual, cabe ressaltar – o game ainda consegue entregar uma história cadenciada, profunda e que se apoia diretamente em discussões emocionais, filosóficas e existenciais de seus personagens.
Gustave perde a Expedição inteira ainda nos primeiros minutos
Reprodução/Luiza M. Martins
A própria ideia do gommage, por exemplo, fez com que eu me pegasse pensando, ao longo da jogatina, sobre o quanto a vida é efêmera. Sobre o quanto aqueles personagens tinham as perspectivas condicionadas pelo fato de saberem que, eventualmente, iam desaparecer feito uma poeira cósmica lançada ao ar de Lumière. E eu, que escrevo essa análise, também vou. Assim como você, que a lê. A questão é: o que fazemos com o tempo que resta até lá?
O tempo é quase um personagem à parte em Expedition 33. É ele que rege o que é feito e como é feito. Gustave, por exemplo, sempre amou Sophie – e ainda parece amar, ao início do jogo. No entanto, essa constatação só vêm à tona quando ela, ao completar 33 anos, desaparece, envolvida pelos braços dele, em uma cena bem emocionante. Já Maelle, a “irmã postiça” de Gustave, resolve se juntar à Expedição nove anos antes de seu último ciclo. Embora ele e outros personagens implorem para que ela fique na cidade, a personagem não vê diferença entre ir naquele momento ou depois. São histórias atravessadas pelo tempo, por ciclos e que se aprisionam na própria finitude dessa realidade.
Clair Obscur: Expedition 33 investe fundo no desenvolvimento dos personagens
Divulgação/Sandfall Interactive
Expedition 33 tem uma trama centrada na narrativa e cede espaços para que seus personagens a tornem rica. São traumas, desejos, motivações e até mesmo momentos de descontração que fazem com que o jogador se sinta acompanhado o tempo todo por eles. Desde Baldur’s Gate 3, eu não me lembro de um jogo tão competente em fazer com que o player se sinta bem acompanhado pela party. Gustave, Sciel, Maelle, Luna e Monoco são únicos e a cada hora a mais que eu jogava, mais eles pareciam verossímeis para mim. É nessas horas que vemos a diferença que faz uma trama bem roteirizada – seja pelos acontecimentos em si ou pelo desenvolvimento dos personagens.
Talvez, minha única ressalva sobre a história em si seja a cadência – em minha perspectiva, o game demora engatar, de fato. O sentimento de estar submerso é relativamente tardio, ainda mais quando consideramos que há uma série de mecânicas que exigem mais tempo para que o jogador as domine. No entanto, quando isso finalmente ocorre, a trama é recompensadora – bem como todo o universo de questões que a envolvem.
Uma experiência de arte em estado puro
Desde que comecei a jogar videogame, ainda criança, considero que tive algumas experiências com jogos que, mais do que simples meios de entretenimento eletrônico, entendi como obras de arte. Foi o caso de Gris, que me encantou com a história introspectiva e um visual aquarelado que beira o absurdo de tão bonito. Com Hollow Knight, por outro lado, perdi as contas de quantas vezes parei tudo para contemplar a direção de arte, tão sombria quanto carismática, e músicas inesquecíveis. E durante minha experiência com Expedition 33, embora o contato seja mais recente, já consigo adiantar: esse é mais um dos raros caso em que o jogo retrata arte em estado puro.
Expedition 33 flerta com o steampunk
Reprodução/Luiza M. Martins
A começar pela trilha sonora. Se a história de Expedition 33, em si, já é dramática e cheia de nuances por si só, com a carga emocional da trilha, tudo é elevado ao épico. Esse elemento remete, logo de cara, à série Final Fantasy, onde não apenas dita o ritmo da narrativa, como é parte importante do que torna cada história torna única. E como na clássica franquia da Square Enix, n jogo da Sandfall, poucos são os momentos em que não há música. Esteja você explorando o mundo semi aberto ou travando uma batalha árdua com um boss, tudo é regido pela trilha sonora. São títulos instrumentais para todos os gostos, estilos e até mesmo algumas canções em francês que ficam na cabeça até de quem não tem a menor intimidade com o idioma.
Dito isso, é preciso enaltecer o trabalho feito pela Sandfall em relação à direção de arte do game. Embora seja um AA – ou seja, um game de menor escopo e, consequentemente, com menos dinheiro investido –, a desenvolvera foi muito competente em criar um mundo rico, colorido e que parece vivo o tempo inteiro. Ainda nas primeiras horas do game, por exemplo, há um momento em que a party encontra um ambiente específico que simula o fundo do mar. E é praticamente impossível sair dali sem ficar admirando as criaturas marinhas, as algas e os movimentos dos elementos no cenário. Em vários momentos, inclusive, o jogo me fez recordar God of War: Ragnarok. Não quero entrar em detalhes para não estragar a surpresa de quem joga, mas em minha perspectiva, alguns dos cenários têm uma inspiração clara em momentos lindíssimos da aventura nórdica de Kratos.
Expedition 33 oferece ambientes que parecem obras de arte
Reprodução/Luiza M. Martins
Aliás, na minha visão, há uma série de referências muito bem-vindas em Expedition 33. O jogo faz uma alusão diretas a JRPGs como o já mencionado Final Fantasy e Persona 5. Em termos de construção da estrutura de mundo semi aberta – onde há a linearidade, mas também um mapa e espaço para backtracking – em muito lembra os Tomb Raiders mais recentes e o próprio God of War. A ambientação baseada na Era Vitoriana faz lembrar de títulos como The Order 1886 e o Lies of P. Mas é no que ele traz de mais original que a cereja do bolo aparece: o combate, do qual falarei no próximo tópico.
Gameplay que agradada a gregos e troianos
Os RPGs de turno nem sempre são encarados com a mesma fome que os actions RPGs pelo público geral. Na verdade, é bem comum que esses games sejam populares em nichos específicos, mas acabem afastando os jogadores que consomem títulos com formatos mais “padronizados”. Eu mesma já ouvi alguns relatos de jogadores e até de amigos jornalistas que não se identificavam com o “combate lento” ou por precisarem “esperar até que o momento de jogar finalmente chegasse”. Em minha pouca experiência com esse nicho, inclusive, já tive alguns desses sentimentos também.
Durante a review de Expedition 33, me vi pensando muito nesses relatos – justamente porque a sensação era que a Sandfall também estava escutando esse público e pensando em uma forma de criar uma experiência que também fosse cativar essas pessoas especificamente. E o resultado me impressionou, sobretudo quando considero que esse é o título de estreia da desenvolvedora. Em Clair Obscure, embora o combate seja por turnos, não existe passividade por parte do jogador – ele precisa estar atento aos comandos do controle para que seja bem-sucedido. Caso contrário, não conseguirá nem mesmo avançar no jogo.
O combate de Expedition 33 mistura ação e RPG de turno
Reprodução/Luiza M. Martins
Expedition 33 mistura o combate com turnos com uma série de quick-time-events (QTEs), ou seja, momentos em que o jogador deve pressionar determinado botão rapidamente para cumprir uma ação. Dentro dos combates, além de selecionar e pensar estrategicamente o que cada um dos personagens vai fazer, o player precisa apertar botões no tempo certo para fortalecer os ataques. Já quando precisa defender, ele pode fazer a mesma coisa para se esquivar ou mesmo para fazer um parry e contragolpear os inimigos. Nesse último caso, a janela de acerto é ainda menor, mas os golpes são poderosos e indispensáveis dependendo de quem se enfrenta. Em dificuldades mais altas, só esquivar os ataques não é o suficiente, inclusive – é preciso aprender o timing certo para o parry, como em um bom soulslike.
Dentro da lógica de Expedition 33, o jogador não é simplesmente um estrategista passivo: há, também, ação dentro dos combates e, em alguns casos, eles não ficam devendo a RPGs realmente focados nesse aspecto. Essa proposta, que é bem ambiciosa, poderia facilmente se tornar entediante caso a variedade de inimigos fosse limitada. Afinal, quando o jogador aprende a movimentação deles, fica bem mais fácil combater. Mas a Sandfall fez um trabalho primoroso quanto à variação dos oponentes. Não apenas eles são extremamente diferentes em termos de design, como têm movimentações, comportamentos e padrões de ataque bem variados. Ou seja, na prática, não há tempo para o jogador entrar na zona de conforto e, quando ele começa a dominar um tipo de combate, já precisa aprender um novo. É um timing muito bem acertado e que nunca deixa o game ficar monótono.
Em Clair Obscur, o jogador assume um papel ativo no combate por turnos
Divulgação/Sandfall Interactive
Além disso, Expedition 33 também tem um sistema de builds meio “diferentão”. Embora cada personagem tenha árvores de habilidades, pontos de experiência, suba de nível e possa ser desenvolvido de acordo com as preferências de cada jogador – todos esses, elementos bem tradicionais do gênero –, o game também inclui os Pictos e as Luminas como parte importante da gameplay. O sistema pode parecer confuso à primeira vista, mas vai ficando mais claro conforme o jogador avança e, para quem jogou God of War (2018), a associação é mais clara: eles funcionam como as runas de Kratos, mas com algumas diferenças.
Basicamente, os Pictos são itens que podem ser encontrados no mapa e equipados. Eles concedem atributos específicos e cada personagem pode ter até três ativos ao mesmo tempo. Gustave, por exemplo, que tem fortes ataques corpo a corpo, pode ficar ainda mais letal com Pictos que forneçam 10% a mais de dano ou maior chance de acerto crítico nesse tipo de embate. Já Maelle tem uma linha de ataques de fogo muito interessante, então usar Pictos com esse foco elemental nela pode ser uma boa opção.
Expedition 33 oferece Pictos e Luminas como parte das builds
Reprodução/Luiza M. Martins
Entretanto, quando o jogador vence quatro batalhas com um Picto específico associado a um personagem, ele se torna uma Lumina. E elas funcionam da mesma forma que os Pictos, exceto por uma questão: podem ser associadas a todos os personagens ao mesmo tempo, desde que estejam dentro do limite de pontos de Lumina de cada um. O Picto elemental de Maelle, por exemplo, também pode ser uma boa escolha para usar na build com Lune e, como Lumina, esse boost pode ser compartilhado.
Esse sistema de personalização, além de bem planejado, é interessante porque, em diversos momentos, Expedition 33 obriga o jogador a derrotar seus inimigos em grupo. O que quero dizer é que, nesse game, não basta levar os personagens para a batalha e fazer com que todos batam nos inimigos com seus ataques mais fortes. É preciso pensar, também, em como combinar efeitos e habilidades entre eles. Por vezes, será necessário que um personagem queime o inimigo para o outro causar mais dano em quem tem efeito de queimadura, por exemplo, e assim sucessivamente.
Desempenho e aspectos técnicos
Antes de avaliar o desempenho, é preciso reforçar um aspecto: Expedition 33 é um AA e, por isso, é um projeto de menor orçamento e que, evidentemente, não deve ser analisado no mesmo prisma de grandes AAAs da indústria. O game tem, sim, alguns problemas técnicos como expressões faciais pouco desenvolvidas e erros de sincronia labial. Entretanto, a parte gráfica é uma das mais caras no processo de desenvolvimento de um jogo e, em minha análise, acredito que ainda assim, o game faz um excelente trabalho nesse aspecto, sobretudo na ambientação.
Também notei alguns delays pontuais nas texturas e me parece que a resolução das cutscenes é inferior ao que é visto durante a gameplay. Os testes do TechTudo foram realizados em um PS5 no modo desempenho (ou seja, com o jogo priorizado o framerate em 60 fps e resolução em 1080p em vez da 4K a 30 fps). Eu não notei quedas nas taxas e nenhum tipo de bug que pudesse comprometer minha experiência.
Há erros de sincronia labial e expressões pouco convincentes no game, mas nada que atrapalhe
Reprodução/Luiza M. Martins
Clair Obscur: Expedition 33 vale a pena?
Clair Obscure é um jogo focado em narrativa com uma histórica madura, personagens interessantes, com nuances e plot twists que os jogadores vão lembrar por muito tempo. Além disso, o game entrega uma ambientação bem desenvolvida, visuais fantásticos e de cair o queixo em algumas cenas, e um muito competente sistema de combate que mescla o melhor o action RPG e com o sistema turnos.
Não me entenda mal – eu me considero uma jogadora exigente e, quando escrevo essas análises, tento ser criteriosa. E enquanto eu escrevia, tentei procurar algo que realmente fosse passível de crítica no game. Mas a verdade é que eu não encontrei nada que, de fato, comprometesse minha vontade e nem me deixasse cansada ao longo da jogatina. Muito pelo contrário até: a cada hora, eu ia me sentindo mais estimulada a jogar, mesmo em momentos em que a dificuldade do game aumentava consideravelmente.
Expedition 33 é um frescor em um mar de games com estruturas saturadas
Reprodução/Steam
É bem verdade que o jogo tem alguns problemas técnicos, o level design não é tão desenvolvido, faz alusões muito claras a títulos de maior escopo… Mas é isso. Nada que pareça, de fato, fazer frente a tudo que esse game entrega de positivo – e eu incluo o preço abaixo do mercado e a disponibilidade no Xbox Game Pass nessa lista também. A única coisa que eu acho realmente criminosa nesse game é até agora não ter um Modo Foto, ainda mais sendo bonito do jeito que é.
No fim das contas, Expedition 33 soou muito mais para mim como um oásis no deserto em uma indústria saturada – visão essa que até soa irônica quando consideramos que a Sandfall é formada por ex-desenvolvedores da Ubisoft. Mas, em suma, para mim, sim. Clair Obscur: Expedition 33 é tudo isso que estão dizendo e, se bobear, é até mais um pouco.
Trailer de Clair Obscur: Expedition 33
Clair Obscur- Expedition 33: Confira o trailer do jogo de ação #trailer #jogos
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